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PB Saúde celebra a consciência negra com programação cultural, diálogo sobre racismo e ações de inclusão

publicado: 21/11/2024 14h53, última modificação: 22/11/2024 09h35

A Fundação Paraibana de Gestão em Saúde (PB Saúde) realizou, em alusão ao Dia da Consciência Negra, atividades especiais que envolveram reflexões sobre racismo, valorização da cultura afro-brasileira e ações de promoção da igualdade racial. As iniciativas aconteceram no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, no dia 13 de novembro, e na sede administrativa da Fundação, na última terça-feira (19).

No Hospital Metropolitano, a programação foi realizada em parceria com a Casa Cultural Oba Oni, com a participação de Kayc César Silva de França Marreiro, Maria Vitória Felipe da Silva, Joseph Ítalo Graças Cardoso e Gleydson Lucas Bernardino Soares. Eles conduziram uma agenda diversa, incluindo uma palestra sobre Sincretismo Religioso e Intolerância Religiosa, apresentações musicais, uma oficina de dança de coco de roda e uma oficina de amarração de turbantes. Além disso, disponibilizaram vestimentas tradicionais da cultura afro-brasileira, promovendo uma imersão cultural entre os colaboradores do hospital. 

A programação também contou com uma feira de alimentos produzidos pelas Mulheres Negras do Campo, grupo vencedor do Prêmio Expo Favela Paraíba 2024. Para Huberlândia Pereira, assistente administrativa, membro da CIPA e convidada para a Comissão de Humanização e Eventos do Hospital Metropolitano, a ação teve um impacto transformador no ambiente hospitalar. 

“Tendo em vista que somos um país laico e que comunga de diversas religiões, trazer a temática das religiões de matriz africana foi essencial para desmistificar o preconceito. Nossa proposta foi trazer informações porque, na maioria das vezes, a intolerância e o desrespeito vêm da falta de conhecimento. Proporcionar essa quebra de paradigmas dentro do hospital foi uma oportunidade para os colaboradores conhecerem e apreciarem o simbolismo das roupas, os costumes, as danças e as tradições das religiões de matriz africana. Foi um momento enriquecedor e necessário”, destacou.

Na sede da PB Saúde, a roda de diálogo sobre Educação para as Relações Étnico-Raciais e Enfrentamento ao Racismo no Serviço Público ocorreu na última terça-feira (19). A atividade contou com representantes do Centro Estadual de Referência da Igualdade Racial João Balula e da Central Única das Favelas (CUFA).

Durante o evento, Antônio Marcos Nascimento, coordenador geral do Centro João Balula, destacou que o racismo estrutural se manifesta também em ambientes como hospitais, onde a assistência religiosa, garantida por lei, muitas vezes não é efetivada devido ao preconceito contra religiões de matriz africana, como candomblé, umbanda e quimbanda. Antônio também trouxe um dado preocupante sobre a violência obstétrica: 

“As mães negras, especialmente aquelas com baixa escolaridade, estão entre as maiores vítimas da violência obstétrica no Brasil. Estudos confirmam que mulheres negras sofrem duas vezes mais que mulheres brancas, refletindo uma desigualdade histórica e estrutural que precisa ser enfrentada. Essa realidade reforça a urgência de políticas públicas que combatam o racismo e promovam equidade no atendimento de saúde”, relatou o gestor.

Já João Oliveira, advogado do Centro João Balula, abordou as diferentes forma que o racismo pode ser manifestar, como o racismo institucional, recreativo, ambiental e religioso, além de trazer aspectos legais relevantes, explicando que, além das penas para crimes de racismo serem agravadas em casos específicos, a aprovação da Lei 14.532 de 2023, conhecida como Nova Lei do Racismo, foi um marco. “Essa legislação equiparou o crime de injúria racial ao de racismo, tornando-o inafiançável e elevando a pena para reclusão de dois a cinco anos. Essa conquista representa um passo significativo na luta antirracista, reforçando a necessidade de uma postura firme no combate a todas as formas de discriminação racial”, pontuou.

Os profissionais do Centro de Igualdade Racial também destacaram a importância de marcos legais nessa luta, como o Plano Estadual de Promoção da Igualdade Racial – PlanePIR/PB (Lei n° 12.131/21), que direcionará, durante 10 anos, as políticas públicas para a promoção da igualdade étnico-racial e o enfrentamento às desigualdades, como também, o impacto da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas públicas e privadas, como uma ferramenta essencial para combater o racismo estrutural.

Thiago Batista, articulador da CUFA, destacou o trabalho da instituição em prol da população negra, especialmente por meio do esporte e do empreendedorismo. “A CUFA tem se dedicado a criar oportunidades para a população negra, em especial nas periferias. A Taça das Favelas é um exemplo de como o esporte pode ser uma plataforma de visibilidade e inclusão para jovens negros. Além disso, iniciativas como a Expo Favela são fundamentais para fortalecer o empreendedorismo negro, dando espaço para pequenos empreendedores da periferia mostrarem o seu trabalho e contribuírem para a economia local. Nossa missão é fomentar essas iniciativas, ampliar o acesso e empoderar a população negra, combatendo o racismo de forma prática”, afirmou Thiago.

A roda de diálogo foi mediada por Mary Santos, assessora de imprensa da PB Saúde, que reforçou a importância do tema. “O racismo estrutural é uma realidade histórica que permeia diversas esferas da sociedade brasileira, incluindo o serviço público. Essa realidade exige de todos nós uma postura ativa na construção de ambientes mais justos. Muitas vezes, o racismo é invisível para quem não o sofre diretamente, está presente em currículos escolares que minimizam a contribuição da população negra para a história, em práticas de contratação que favorecem padrões eurocêntricos, e até mesmo na forma como os serviços públicos são distribuídos e acessados”, afirmou. Ela destacou ainda que a construção de um serviço público antirracista demanda ações concretas, como a formação continuada de servidores, a valorização da representatividade e o enfrentamento ao racismo institucional.

Centro de Igualdade Racial João Balula - O serviço oferece atendimento social, pedagógico, psicológico e jurídico às pessoas vítimas de racismo, intolerância religiosa e pessoas migrantes. O objetivo da instituição é trabalhar com redução das desigualdades raciais e incentivar a equidade racial para a população negra, povos e comunidades tradicionais: quilombolas, indígenas, ciganas e de religião de matriz africana (candomblé, umbanda e jurema sagrada).  

Para ter acesso, os interessados podem ir até a instituição que fica localizada na Rua Rodrigues de Aquino, 220, Centro, João Pessoa (PB), ou entrar em contato através dos números (83) 3221-6328 e (83) 99340-3946, bem como, acompanhar as atividades desenvolvidas pelo Centro no instagram @centroracialpb.